Por Sílvio Nascimento Melo
A tarde do dia 08 de setembro de 2018 prometia um bom papo sobre reminiscências e histórias. A sugestão e articulação do horário e data melhores foi do amigo Cláudio Campos. A visita foi marcada sem o anfitrião saber quem seriam os visitantes. Ideia da sua filha Silesia. Juntos com os amigos Antônio Sobrinho e Cláudio Campos fomos efusivamente recebidos pelo nosso anfitrião às 15h. Exatamente. E não somos britânicos! O economista e professor Sílvio Bulhões, aposentado como ex- servidor do DNER e do quadro público estadual, sempre foi assim. Saudando e cumprimentando alegremente os conterrâneos, ex-alunos, conhecidos e amigos. De postura atenciosa, educada e afável.
Silvio Hermano de Bulhões, filho do Padre Bulhões e sua irmã Maria Angélica Bulhões, conhecida como “Liquinha” e de Christino Gomes da Silva Cleto e Sérgia Maria da Conceição. Christino, também conhecido como Corisco, o Diabo Louro, compadre e braço direito de Lampião, e Sérgia Maria da Conceição, conhecida como Dadá. Estávamos na casa do filho de Corisco e Dadá.
Acomodados na sala de visitas, logo a sua esposa D Lourdes e a filha Silésia se despediram ao saírem para um compromisso. As perguntas foram se sucedendo, ordenadamente, como pediu: a cada pergunta, lembrava e relatava os fatos, pausadamente e com clareza. O professor Silvio Bulhões lembrou de estar completando, no dia 08 de setembro, exatos 83 anos de idade, pois considerava ter duas datas de nascimento: 29 de agosto, data em que chegou a esse “mundo de meu Deus” em uma tarde de muita chuva e tempestade, e, também, em 08 de setembro por ser o dia em que foi entregue ao Padre Bulhões.
Ler o livro do professor Silvio, há anos aguardado por seus amigos e conterrâneos, e ter o privilégio de compartilhar as suas “Memórias e reflexões de um filho dos cangaceiros Corisco e Dada” extrapolou todas as nossas expectativas. O seu relato claro e rico, a cada capítulo, com informações detalhadas tendo a sua mãe Dadá como fonte primária da história, não escondeu a sua emoção, amor e o sentimento profundo de gratidão nutridos por seus pais biológicos e por seus pais adotivos.
Ora como espectador da história, ora como personagem da própria história. O sonho enigmático e estranhas coincidências reforçam a ligação espiritual com seu pai Corisco sem conhecê-lo. Fatos e informações importantes como os detalhes do seu nascimento, a amizade de Corisco e Dadá com os amigos e compadres Lampião e Maria Bonita, o amor superando os riscos de Corisco e Dadá para estarem próximos no dia do batizado do filho, o casamento dos seus pais, a vingança trágica pelas mortes de Angicos, o encontro e a convivência com Dadá a partir dos 19 anos, a campanha nacional para sepultamento das cabeças de Lampião, Maria Bonita e dos nove cangaceiros dizimados em Angicos, além do Corisco e, finalmente, a cremação e o lançamento das cinzas de Corisco nas águas da Pajucara, tornam o livro histórico. As histórias que ouvi do professor Silvio Bulhões, como seu aluno no curso ginasial, e em visita à sua residência em 2018, bem como as inúmeras leituras realizadas em livros sobre o Cangaço e a saga de Corisco e Dadá, se completam magistralmente nessas memórias e reflexões.